Com seus primeiros casos diagnosticados no Brasil, no início do século XX, o Pênfigo Foliáceo Endêmico ficou mundialmente conhecido como a doença do Fogo Selvagem. Tem maior incidência em áreas rurais, provoca bolhas seguidas de graves feridas em carne viva. Se não tratadas, as lesões podem se espalhar por todo o corpo do paciente, com elevado risco de infecções.

A enfermidade ainda não tem cura. Mas a boa notícia é que hoje já existem tratamentos capazes de controlá-la. Quanto mais cedo for diagnosticada menores serão as chances de as feridas se espalharem pelo corpo. Confira a seguir como a doença age, seus principais sintomas e tratamentos:

Uma doença descoberta no Brasil  

A medicina classifica o Fogo Selvagem como um tipo específico de pênfigo, mais comumente encontrado em áreas rurais do Brasil. O nome informal da moléstia foi dado pelos primeiros pacientes e moradores dessas regiões, devido ao ardor e calor provocados pelas feridas. Curiosamente, a denominação em Português acabou adotada inclusive pela comunidade médica Sociedade Brasileira de Dermatologia.

Trata-se de uma doença autoimune que, por causas ainda desconhecidas, leva o organismo a “sabotar” o sistema imunológico do paciente. A pessoa doente passa a produzir anticorpos que atacam as células dos seus próprios tecidos, afetando a parte mais superficial da pele. Ao contrário de outros tipos de pênfigos, o Fogo Selvagem não ataca as mucosas do paciente. Apenas a superfície da pele e do couro cabeludo são atingidos.

No Brasil, as áreas com maior número de ocorrências concentram-se no interior, mais ao norte de São Paulo, Minas Gerais e nas regiões Centro-Oeste e Norte do país. A doença também é encontrada, com menor incidência, em países da América do Sul e na África. Pesquisas recentes, ainda não comprovadas, estudam uma possível transmissão da doença por mosquitos. Isso explicaria sua maior incidência em zonas rurais.

Sintomas e características do Fogo Selvagem

incidência do Fogo Selvagem costuma ser maior entre adultos e jovens adultos, mas também pode acometer crianças e idosos. Nos mais novos pode inclusive inibir o crescimento. As primeiras manifestações da doença ocorrem sob a forma de pequenas manchas seguidas de bolhas. Elas aparecem mais comumente no tronco, ombros, pescoço, rosto e couro cabeludo. Essas bolhas surgem porque o sistema imunológico do paciente passa a atacar uma proteína responsável pela união das células da epiderme, denominada desmogleína 1.

Quando as bolhas estouram dão lugar a feridas e placas rugosas, seguidas de descamação progressiva da pele. Nessa fase, as bolhas tornam-se mais raras e as manchas e feridas podem tomar todo o corpo. As feridas dificilmente fecham sozinhas e, se não tratadas, viram alvo de infecções oportunistas.

Principais lesões provocadas pelo Fogo Selvagem:

  1. Bolhas e manchas avermelhadas – características da fase inicial ou pré-invasiva da doença, as manchas avermelhadas e bolhas se multiplicam pelo tronco, pescoço, rosto e cabeça. Não é raro que ocorra também descamações pontuais no couro cabeludo. O paciente apresenta febre, dor nas articulações e desconforto generalizado.
  2. Feridas e descamação da pele – Quando as bolhas começam a estourar a doença entra na fase invasiva. Nesse estágio a pele e couro cabeludo começam a descamar e são tomados por feridas úmidas, que exalam um odor forte. O paciente sofre com dores e ardor.
  3. Placas verrugosas – Em uma fase mais crônica da doença, o paciente também pode apresentar, além das feridas, lesões nodulares que lembram placas e crostas formadas por agrupamento de verrugas.

Fogo Selvagem não oferece risco de contágio 

De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia, o Fogo Selvagem, assim como os demais tipos de Pênfigos, não é uma doença contagiosa. Mas se não tratadas, as feridas podem permanecer abertas por anos levando a quadros crônicos e graves complicações. O diagnóstico deve ser feito o quanto antes, de preferência assim que as bolhas e manchas começarem a aparecer.

Para confirmar a doença, o médico dermatologista complementa o exame clínico com uma biópsia de um pequeno pedaço da bolha ou da pele afetada. O exame de laboratório é necessário para uma confirmação mais assertiva, uma vez que há vários tipos semelhantes de pênfigos.

Tratamento exige diagnóstico preciso 

O tratamento requer o uso de corticosteroides e também pode exigir a administração de antibióticos e medicação imunossupressora. Dependendo do estágio da doença, há necessidade de internação e emprego de medicação intravenosa, para um combate mais rápido. Por isso, o médico precisa buscar um diagnóstico preciso antes de submeter o paciente à pesada carga de remédios, que muitas vezes se faz necessária no início do tratamento.

A medicação inicial vai sendo gradativamente reduzida e pode até ser descontinuada à medida que o paciente evolui. Mas dependendo do grau em que esteja a doença, mesmo com tratamento, pode levar meses e até anos para que as feridas desapareçam. Durante esse período, o paciente também precisa ser acompanhado por médicos de outras especialidades, como oftalmologista, cardiologista e endocrinologista, a fim de prevenir e tratar possíveis efeitos colaterais do tratamento prolongado, tais como hipertensão arterial e alterações renais.

Pesquisas avançam rumo à cura

Há anos, centros de pesquisa no Brasil e em vários outros países acompanham pacientes e estudam as causas do Fogo Selvagem. Já se sabe, por exemplo, que algumas pessoas têm uma pré-disposição genética e que outras podem desenvolvê-la a partir de alguma infecção viral ou até como reação ao uso der alguns medicamentos.

Um dos principais anticorpos responsáveis pelos ataques que causam a doença, o IgG4, já foi identificado. A comunidade científica agora trabalha para tentar neutralizá-lo. Uma conquista que poderá ajudar também na cura de outras doenças autoimunes como, por exemplo, o Lúpus.

Agora que você já sabe o que é Fogo Selvagem, deixe um comentário abaixo ou uma sugestão de tema para um próximo artigo.

Formada em biblioteconomia pela UFMG, Fátima Watanabe começou na sua área escrevendo artigos sobre as obras de Dante Alighieri e sua importância dentro da literatura. Hoje, Fátima passa seus dias como pesquisadora de sua área, integrando o uso de palavras-chave na pesquisa didática e ainda escreve editoriais e artigos no Saude Dicas.